OS TRIBUNAIS COMO MÁQUINAS DE GUERRA DO ESTADO FASCISTA ITALIANO EM ALFREDO ROCCO E SUAS REPERCUSSÕES NO PENSAMENTO E NA ATUAÇÃO POLÍTICA DE FRANCISCO CAMPOS, O JURISTA DO ESTADO NOVO

Authors

DOI:

https://doi.org/10.21783/rei.v7i3.689

Keywords:

Poder Judiciário, Fascismo, Estado Forte, Tribunal Especial para a Defesa do Estado, Tribunal de Segurança Nacional.

Abstract

O século XX é profundamente marcado pelo fascismo e pelos mais variados tipos de autoritarismo, fenômenos que vão realocar o Estado no campo da filosofia política e produzir alterações em seu interior e em suas concepções teóricas. Os Tribunais cumprem importantes papéis nessa nova arquitetura e funcionam como aparatos legais contra o dissenso político no fascismo italiano de Mussolini e no estadonovismo de Vargas, através da atuação repressora do Tribunal Especial para a Defesa do Estado (Itália) e do Tribunal de Segurança Nacional (Brasil). Como pano de fundo teórico dos novos papéis judiciais tem-se a concepção de um Estado forte baseado na ordem e na unidade e que nega a soberania popular, a criar um tipo de unidade anônima, embora se sirva das massas como plataforma de legitimação do poder que exerce. O Estado forte despreza a separação dos poderes e a democracia liberal, vistas como mitos que apenas enfraquecem a ordem estatal. Além disso, o Estado forte gravita em torno de uma personalidade carismática que produz em si um tipo de unidade espiritual entre o Estado e a sociedade.  Os aparatos judiciários de exceção e a doutrina do Estado forte contam com as contribuições teóricas e práticas de Alfredo Rocco e Francisco Campos, juristas e ideólogos da exceção. Assim, o objetivo do presente trabalho é, no marco de perspectivas críticas sobre a teoria do estado e a problemática relação entre direito e política, contribuir ao aprofundamento das aproximações entre as concepções políticas do Poder Judiciário no fascismo italiano e no Estado Novo brasileiro, indo além das pesquisas que resgatam as relações de filiação entre a legislação criminal italiana da década de trinta e a legislação brasileira produzida pelo Estado Novo. Os temas propostos no presente trabalho nos permitem refletir sobre as relações entre direito e política e sobre o sistema de justiça como antiga e ainda eficiente máquina de guerra voltada à eliminação do dissenso político e da democracia.   

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biography

Rogério Pacheco Alves, Universidade Federal Fluminense

Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (Brasil). Doutor em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio.

References

ALBUQUERQUE, Antônio Joaquim Pires de Carvalho e. Culpa e castigo de um magistrado. 2ª edição. Rio de Janeiro: Pap. Cruzeiro, 1934.

ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. Pequena história da formação social brasileira. 4ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.

ASQUINI, Alberto. L’opera giuridica di Alfredo Rocco. Il foro italiano, v. 61, parte quarta, 1936, pp. 121-130.

BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia judicial versus diálogos constitucionais: a quem cabe a última palavra sobre o sentido da Constituição? Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.

CAMPOS, Francisco. Diretrizes do Estado Nacional (entrevista concedida à imprensa, em novembro de 1937). In: O Estado nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001a.

_____________. Problemas do Brasil e soluções do regime (entrevista concedida à imprensa em janeiro de 1938). In: O Estado nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001b.

_____________. Exposição de Motivos do Projeto do Código de Processo Civil. In: O Estado nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001c.

_____________. Estado Nacional (discurso proferido em 10 de maio de 1938). In: O Estado nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001d.

_____________. O Estado Novo (discurso proferido a 10 de novembro de 1938, por ocasião do primeiro aniversário da instituição o Estado Novo). In: O Estado nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001e.

CAMPOS, Reynaldo Pompeu de. Repressão judicial no Estado Novo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Tradução de Alex Marins, São Paulo: Martin Claret, 2002.

KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. 2ª Edição. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2009.

LACCHÈ, Luigi. Um Code Pénal por l’unité Italianne: le Code Zanardelli (1889) – la genèse, le débat, le projet juridique. Sequência (Florianópolis) n. 68, jun. 2014, pp. 37-57.

_____________. The shadow of the law: the special tribunal for the defence of the state between justice and politics in the italian fascista period. In: Fascism and criminal law: history, theory, continuity. Stephen Skinner (editor). London: Hart Publishing, 2015.

LOEWENSTEIN, Karl. Brazil under Vargas. New York: The Macmillan Company, 1942.

MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Tradução de MF. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

_____________. O Príncipe. Tradução de Hingo Weber. Petrópolis: Vozes, 2011.

MEZZETTI, Nazareno. Alfredo Rocco, il giurista di Mussolini. Roma: Edizioni dela Lanterna, 2012.

MENICONI, Antonella. La magistratura e la politica dela giustizia durante il fascismo attaverso le struture del ministero della giutizia. In: Il diritto del duce: giustizia e repressione nell’Italia fascista. Luigi Lacchè (a cura di). Roma: donzelli editore, 2015.

MUSSOLINI, Benito. The doctrine of Fascism. Political and social doctrine. In: Essays on facism. London: Sanctuary Press Ltd, 2019.

RIBEIRO, Darcy. Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1985.

ROCCO, Alfredo. The political doctrine of fascism. In: Essays on facism. London: Sanctuary Press Ltd, 2019.

ROSENFIELD, Luis. As encruzilhadas da Justiça no Estado Novo (1937-1945): o Supremo Tribunal Federal e a Ideia de Oligarquia da Toga. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia, v. 48, n. 1, jan/jul. 2020.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MARQUES, Maria Manuel Leitão; PEDROSO, João; FERREIRRA, Pedro Lopes. Os Tribunais nas sociedades contemporâneas: o caso português. 2ª edição. Porto: Edições Afrontamento, 1996.

STRAYER, Joseph R. As origens medievais do Estado Moderno. Tradução de Carlos da Veiga Ferreira. Lisboa: Gradiva, 1997.

TATE, C. Neal; VALLINDER, Torbjörn. The Global Expansion of Judicial Power. New York and London: New York University Press, 1995.

VIANNA, Luiz Werneck; BURGOS, Marcelo. Revolução processual do direito e democracia progressiva. In: A Democracia e os Três Poderes no Brasil. Luiz Werneck Vianna (org.), Belo Horizonte: UFMG, Rio de Janeiro: IUPERJ/FAPERJ, 2003.

WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. Tradução de Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. 18ª edição. São Paulo: Cultrix, 2011.

Published

2021-12-31

How to Cite

Alves, R. P. (2021). OS TRIBUNAIS COMO MÁQUINAS DE GUERRA DO ESTADO FASCISTA ITALIANO EM ALFREDO ROCCO E SUAS REPERCUSSÕES NO PENSAMENTO E NA ATUAÇÃO POLÍTICA DE FRANCISCO CAMPOS, O JURISTA DO ESTADO NOVO. JOURNAL OF INSTITUTIONAL STUDIES, 7(3), 988–1013. https://doi.org/10.21783/rei.v7i3.689

Issue

Section

Dossier