QUEM QUER SER UM QUARTO PODER?

DINÂMICAS DE AUTOCONSTRUÇÃO EM QUARTO PODER NO BRASIL

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.959

Palavras-chave:

Quarto Poder, Autoconstrução Institucional, Tribunal de Contas da União, Controle Prévio, Desenho Constitucional, Poderes Implícitos

Resumo

Este artigo investiga o processo de "autoconstrução" de uma instituição como um Quarto Poder, argumentando que, para além do desenho constitucional formal (perspectiva externa), existe uma agência institucional interna que busca ativamente esse reconhecimento. Utilizando o Tribunal de Contas da União (TCU) como estudo de caso, o texto demonstra como essa autoconstrução opera em duas frentes: durante o processo constituinte, por meio da defesa de um desenho institucional favorável, e na prática pós-constitucional, através de uma interpretação expansiva de suas competências. A análise do controle prévio de editais de licitação pelo TCU ilustra como a instituição, baseando-se em uma hermeneutica constitucional que invoca poderes implícitos e na construção de capacidade interna, consolidou uma competência não expressamente prevista na Constituição. O artigo conclui que o reconhecimento como Quarto Poder é um processo dinâmico, dependente não apenas de um entrenchment normativo, mas também de uma "vontade institucional" ativa e da aquiescência de outros atores com poder de veto.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Juliana Bonacorsi de Palma, FGV Direito SP

Professora Associada e Pesquisadora da FGV Direito SP. Coordenadora do Grupo Público da FGV Direito SP. Coordenadora do Escritório Central de Integridade Científica da FGV. Doutora e Mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Master of Laws (LL.M.) pela Yale Law School e bolsista da Lilian Goldman Perpetual Scholarship. Bacharel em Direito pela PUC-SP. Foi visiting scholar na Washington College of Law - American University. Professora do FGVLaw. Colaboradora da Escola de Formação Pública, da qual foi aluna. Desenvolve pesquisas na área de Direito Administrativo, Regulação e Direito Burocracia.

André Janjácomo Rosilho, FGV Direito SP

Professor do mestrado profissional em direito público e da pós-graduação lato sensu da FGV Direito SP. Coordenador do Observatório do TCU da FGV Direito SP + Sociedade Brasileira de Direito Público - sbdp. Doutor em Direito Administrativo pela USP (2016). Mestre em Direito e Desenvolvimento pela FGV Direito SP (2011). Foi visiting student no mestrado em Affaires Publiques no Institut d´Études Politiques de Paris - Sciences Po (2011). Graduou-se em Direito pela PUC-SP (2009). Tem experiência em direito público.

Referências

ACKERMAN, Bruce. The New Separation of Powers. Harvard Law Review, vol. 113, n. 3, p. 633-729, 2000. DOI: https://doi.org/10.2307/1342286

ARANTES, Rogério Bastos. Direito e Política: o Ministério Público e a defesa dos direitos coletivos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 14, n. 39, p. 83-102, fev. 1999. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69091999000100005

BALTASAR, José Paulo; VASCONCELOS, Sara Schütz. O Ministério Público na Constituição Federal de 1988. Revista Ministério Público, Nova fase, vol. 1, n. 22, p. 19-26, 1989.

BENJÓ, Celso. O Ministério Público Segundo Nossa Proposta de Enquadramento. Revista de Direito da Procuradoria Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, vol. 12, n. 24, p. 53-56, jul./dez. 1986.

BIRDTHISTLE, William A.; HENDERSON, M. Todd. Becoming a Fifth Branch. Cornell Law Review, vol. 99, n. 1, p. 1-82, 2013.

BOGÉA, Daniel; ROSILHO, André; JORDÃO, Eduardo. De Onde Vem o “Poder” do TCU para Barrar Desestatizações? Jota, 02 fev. 2022. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/controle-publico/de-onde-vem-o-poder-do-tcu-para-barrar-desestatizacoes. Acesso em: 10 mar. 2025. DOI: https://doi.org/10.21783/rei.v10i2.827

COMPLOIER, Mylene. O Ministério Público e a Assembleia Nacional Constituinte: as origens de um texto inovador. Cadernos de Pós-Graduação Direito UFRGS, vol. 10, n. 2, p. 312-332, 2015. DOI: https://doi.org/10.22456/2317-8558.54096

CUÉLLAR, Mariano-Florentino. James Landis and the Dilemmas of Administrative Government. The George Washington Law Review, vol. 83, n. 5, p. 1320-1353, 2015.

DIXON, Rosalind; TUSHNET, Mark. Democratic Constitutions, Poverty and Economic Inequality: redress through the fourth branch institutions? Federal Law Review, vol. 51, n. 3, p. 284-305, 2023. DOI: https://doi.org/10.1177/0067205X231188640

INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SUPREME AUDIT INSTITUTIONS (INTOSAI). 40 Years of Lima Declaration of INTOSAI. 2017. Disponível em: https://www.intosai.org/fileadmin/downloads/documents/open_access/INTOSAI_Publications/Publication_40y_Lima_Declaration/EN_40_Jahre_Lima_Deklaration.pdf. Acesso em: 10 mar. 2025.

INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SUPREME AUDIT INSTITUTIONS (INTOSAI). International Organization of Supreme Audit Institutions. 2022. Disponível em: https://www.intosai.org/fileadmin/downloads/about_us/2022_Folder_INTOSAI_pages.pdf. Acesso em: 10 mar. 2025.

JORDÃO, Eduardo; PALMA, Juliana. O Tribunal de Contas da União: uma instituição muito peculiar. Revista Internacional de Direito Constitucional, n. 20, p. 1499-1520, 2022.

KERCHE, Fábio. O Ministério Público e a Constituinte de 1987/88. In: SADEK, Maria Teresa (org.). O Sistema de Justiça. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. p. 119-135.

KHAITAN, Tarunabh. Guarantor (or the So-Called “Fourth Branch”) Institutions. In: KING, Jeff; BELLAMY, Richard (org.). Cambridge Handbook of Constitutional Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 2024. p. 603-620. DOI: https://doi.org/10.1017/9781108868143.040

KHAITAN, Tarunabh. Guarantor Institutions. Asian Journal of Comparative Law, vol. 16, n. S1, p. S40-S56, 2021. DOI: https://doi.org/10.1017/asjcl.2021.19

KOCH JR., Charles H. James Landis: the administrative process. William & Mary Law School Scholarship Repository, vol. 37, n. 2, p. 419-442, 1996.

LANDIS, James M. The Administrative Process. New Haven: Yale University Press, 1938.

MAZZILLI, Hugo Nigro. A Natureza das Funções do Ministério Público e sua Posição no Processo Penal. Revista dos Tribunais, vol. 805, p. 11-29, nov. 2002.

MEIRELES, José Dilermando. O Ministério Público na Constituição. Proposta de enquadramento. Revista de Informação Legislativa, vol. 24, n. 93, p. 123-130, jan./mar. 1987.

MODI, Neil. The Fourth Branch, Separation of Powers, and Transformative Constitutionalism. Oregon Review of International Law, vol. 25, n. 1, p. 49-78, 2024.

PASCOAL, Valdecir. O Poder de Cautela dos Tribunais de Contas. Revista do TCU, n. 115, p. 103-118, 2009.

PEREIRA, Gustavo Leonardo Maia. Limites ao Controle das Privatizações: entre dúvidas e certezas. Jota, 22 jan. 2020. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/controle-publico/limites-ao-controle-das-privatizacoes-entre-duvidas-e-certezas. Acesso em: 10 mar. 2025.

ROSILHO, André. Controle da administração pública pelo Tribunal de Contas da União. 2016. 150 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

ROZNAI, Yaniv. We the Fourth Branch? The people as an institution protecting democracy. In: JACKSON, Vicki; KHOSLA, Madhav (org.). Comparative Constitutional Law: redefining the field. Oxford: Oxford University Press, 2024. p. 210-230. DOI: https://doi.org/10.1093/9780191996344.003.0020

SABO PAES, José Eduardo. O Ministério Público na Constituição Brasileira. Sua natureza, princípios e estrutura. Boletim Científica. Escola Superior do Ministério Público, vol. 7, p. 49-64, abr./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.63601/bcesmpu.2003.n7.49-63

SANTOS, Igor Spock Silveira. O Ministério Público como “Quarto Poder”: relevância do reconhecimento para o sistema constitucional. Revista Publicum, vol. 2, n. 2, p. 142-163, 2016. DOI: https://doi.org/10.12957/publicum.2016.22787

SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo para Céticos. 3. ed. São Paulo: JusPodivm, 2025.

SUNDFELD, Carlos Ari. O fenômeno constitucional e suas três forças. In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira de et al. (coord.). Vinte anos da Constituição Federal de 1988: filosofia e teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 11-27.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU). Relatório de Gestão do Tribunal de Contas 2024. Brasília: TCU, 2025.

TUSHNET, Mark. The New Fourth Branch. Institutions for Protecting Constitutional Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. DOI: https://doi.org/10.1017/9781009047609

TUSHNET, Mark. Good-bye Montesquieu. In: ROSE-ACKERMAN, Susan; LINDSETH, Peter L.; EMERSON, Blake (coord.). Comparative Administrative Law. Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2017. p. 128-133.

VALLADÃO, Alfredo. O Ministério Público. Quarto poder do estado e outros estudos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1973.

ZYMLER, Benjamin. O Papel do Tribunal de Contas da União no Controle das Agências Reguladoras. Biblioteca Digital Fórum de Direito Público, vol. 11, 2002. Disponível em: https://forumdedireitopublico.com.br/biblioteca-digital/. Acesso em: 10 mar. 2025.

Downloads

Publicado

2025-09-06

Como Citar

Palma, J. B. de, & Rosilho, A. J. (2025). QUEM QUER SER UM QUARTO PODER? DINÂMICAS DE AUTOCONSTRUÇÃO EM QUARTO PODER NO BRASIL. REI - REVISTA ESTUDOS INSTITUCIONAIS, 11(3), 1003–1033. https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.959

Edição

Seção

Dossiê