QUEM QUER SER UM QUARTO PODER?
DINÂMICAS DE AUTOCONSTRUÇÃO EM QUARTO PODER NO BRASIL
DOI:
https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.959Palavras-chave:
Quarto Poder, Autoconstrução Institucional, Tribunal de Contas da União, Controle Prévio, Desenho Constitucional, Poderes ImplícitosResumo
Este artigo investiga o processo de "autoconstrução" de uma instituição como um Quarto Poder, argumentando que, para além do desenho constitucional formal (perspectiva externa), existe uma agência institucional interna que busca ativamente esse reconhecimento. Utilizando o Tribunal de Contas da União (TCU) como estudo de caso, o texto demonstra como essa autoconstrução opera em duas frentes: durante o processo constituinte, por meio da defesa de um desenho institucional favorável, e na prática pós-constitucional, através de uma interpretação expansiva de suas competências. A análise do controle prévio de editais de licitação pelo TCU ilustra como a instituição, baseando-se em uma hermeneutica constitucional que invoca poderes implícitos e na construção de capacidade interna, consolidou uma competência não expressamente prevista na Constituição. O artigo conclui que o reconhecimento como Quarto Poder é um processo dinâmico, dependente não apenas de um entrenchment normativo, mas também de uma "vontade institucional" ativa e da aquiescência de outros atores com poder de veto.
Downloads
Referências
ACKERMAN, Bruce. The New Separation of Powers. Harvard Law Review, vol. 113, n. 3, p. 633-729, 2000. DOI: https://doi.org/10.2307/1342286
ARANTES, Rogério Bastos. Direito e Política: o Ministério Público e a defesa dos direitos coletivos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 14, n. 39, p. 83-102, fev. 1999. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69091999000100005
BALTASAR, José Paulo; VASCONCELOS, Sara Schütz. O Ministério Público na Constituição Federal de 1988. Revista Ministério Público, Nova fase, vol. 1, n. 22, p. 19-26, 1989.
BENJÓ, Celso. O Ministério Público Segundo Nossa Proposta de Enquadramento. Revista de Direito da Procuradoria Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, vol. 12, n. 24, p. 53-56, jul./dez. 1986.
BIRDTHISTLE, William A.; HENDERSON, M. Todd. Becoming a Fifth Branch. Cornell Law Review, vol. 99, n. 1, p. 1-82, 2013.
BOGÉA, Daniel; ROSILHO, André; JORDÃO, Eduardo. De Onde Vem o “Poder” do TCU para Barrar Desestatizações? Jota, 02 fev. 2022. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/controle-publico/de-onde-vem-o-poder-do-tcu-para-barrar-desestatizacoes. Acesso em: 10 mar. 2025. DOI: https://doi.org/10.21783/rei.v10i2.827
COMPLOIER, Mylene. O Ministério Público e a Assembleia Nacional Constituinte: as origens de um texto inovador. Cadernos de Pós-Graduação Direito UFRGS, vol. 10, n. 2, p. 312-332, 2015. DOI: https://doi.org/10.22456/2317-8558.54096
CUÉLLAR, Mariano-Florentino. James Landis and the Dilemmas of Administrative Government. The George Washington Law Review, vol. 83, n. 5, p. 1320-1353, 2015.
DIXON, Rosalind; TUSHNET, Mark. Democratic Constitutions, Poverty and Economic Inequality: redress through the fourth branch institutions? Federal Law Review, vol. 51, n. 3, p. 284-305, 2023. DOI: https://doi.org/10.1177/0067205X231188640
INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SUPREME AUDIT INSTITUTIONS (INTOSAI). 40 Years of Lima Declaration of INTOSAI. 2017. Disponível em: https://www.intosai.org/fileadmin/downloads/documents/open_access/INTOSAI_Publications/Publication_40y_Lima_Declaration/EN_40_Jahre_Lima_Deklaration.pdf. Acesso em: 10 mar. 2025.
INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SUPREME AUDIT INSTITUTIONS (INTOSAI). International Organization of Supreme Audit Institutions. 2022. Disponível em: https://www.intosai.org/fileadmin/downloads/about_us/2022_Folder_INTOSAI_pages.pdf. Acesso em: 10 mar. 2025.
JORDÃO, Eduardo; PALMA, Juliana. O Tribunal de Contas da União: uma instituição muito peculiar. Revista Internacional de Direito Constitucional, n. 20, p. 1499-1520, 2022.
KERCHE, Fábio. O Ministério Público e a Constituinte de 1987/88. In: SADEK, Maria Teresa (org.). O Sistema de Justiça. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. p. 119-135.
KHAITAN, Tarunabh. Guarantor (or the So-Called “Fourth Branch”) Institutions. In: KING, Jeff; BELLAMY, Richard (org.). Cambridge Handbook of Constitutional Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 2024. p. 603-620. DOI: https://doi.org/10.1017/9781108868143.040
KHAITAN, Tarunabh. Guarantor Institutions. Asian Journal of Comparative Law, vol. 16, n. S1, p. S40-S56, 2021. DOI: https://doi.org/10.1017/asjcl.2021.19
KOCH JR., Charles H. James Landis: the administrative process. William & Mary Law School Scholarship Repository, vol. 37, n. 2, p. 419-442, 1996.
LANDIS, James M. The Administrative Process. New Haven: Yale University Press, 1938.
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Natureza das Funções do Ministério Público e sua Posição no Processo Penal. Revista dos Tribunais, vol. 805, p. 11-29, nov. 2002.
MEIRELES, José Dilermando. O Ministério Público na Constituição. Proposta de enquadramento. Revista de Informação Legislativa, vol. 24, n. 93, p. 123-130, jan./mar. 1987.
MODI, Neil. The Fourth Branch, Separation of Powers, and Transformative Constitutionalism. Oregon Review of International Law, vol. 25, n. 1, p. 49-78, 2024.
PASCOAL, Valdecir. O Poder de Cautela dos Tribunais de Contas. Revista do TCU, n. 115, p. 103-118, 2009.
PEREIRA, Gustavo Leonardo Maia. Limites ao Controle das Privatizações: entre dúvidas e certezas. Jota, 22 jan. 2020. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/controle-publico/limites-ao-controle-das-privatizacoes-entre-duvidas-e-certezas. Acesso em: 10 mar. 2025.
ROSILHO, André. Controle da administração pública pelo Tribunal de Contas da União. 2016. 150 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.
ROZNAI, Yaniv. We the Fourth Branch? The people as an institution protecting democracy. In: JACKSON, Vicki; KHOSLA, Madhav (org.). Comparative Constitutional Law: redefining the field. Oxford: Oxford University Press, 2024. p. 210-230. DOI: https://doi.org/10.1093/9780191996344.003.0020
SABO PAES, José Eduardo. O Ministério Público na Constituição Brasileira. Sua natureza, princípios e estrutura. Boletim Científica. Escola Superior do Ministério Público, vol. 7, p. 49-64, abr./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.63601/bcesmpu.2003.n7.49-63
SANTOS, Igor Spock Silveira. O Ministério Público como “Quarto Poder”: relevância do reconhecimento para o sistema constitucional. Revista Publicum, vol. 2, n. 2, p. 142-163, 2016. DOI: https://doi.org/10.12957/publicum.2016.22787
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo para Céticos. 3. ed. São Paulo: JusPodivm, 2025.
SUNDFELD, Carlos Ari. O fenômeno constitucional e suas três forças. In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira de et al. (coord.). Vinte anos da Constituição Federal de 1988: filosofia e teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 11-27.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU). Relatório de Gestão do Tribunal de Contas 2024. Brasília: TCU, 2025.
TUSHNET, Mark. The New Fourth Branch. Institutions for Protecting Constitutional Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. DOI: https://doi.org/10.1017/9781009047609
TUSHNET, Mark. Good-bye Montesquieu. In: ROSE-ACKERMAN, Susan; LINDSETH, Peter L.; EMERSON, Blake (coord.). Comparative Administrative Law. Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2017. p. 128-133.
VALLADÃO, Alfredo. O Ministério Público. Quarto poder do estado e outros estudos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1973.
ZYMLER, Benjamin. O Papel do Tribunal de Contas da União no Controle das Agências Reguladoras. Biblioteca Digital Fórum de Direito Público, vol. 11, 2002. Disponível em: https://forumdedireitopublico.com.br/biblioteca-digital/. Acesso em: 10 mar. 2025.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Juliana Bonacorsi de Palma, André Janjácomo Rosilho

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online após a publicação na revista.